'Le moyen le plus simple d'identifier autrui à soi-même, c'est encore de le manger'.
Claude Lévi-Strauss
'Le moyen le plus simple d'identifier autrui à soi-même, c'est encore de le manger'.
Claude Lévi-Strauss
In 'Questões de Poética Simbolista - Do romantismo à modernidade', Paula Mendes Coelho, Dez 2006
Pinturas de Boudoir
I
óleo s/ cartão, 18 x 15 cm,MJoão
moldura: "achada na rua"
"Do que sucedeu ao engenhoso fidalgo na venda que ele imaginava castelo...
...Embora improvisada com os enxalmos e mantas dos seus machos levava grande vantagem à de dom Quixote, que só continha quatro mal acepilhadas tábuas sobre dois bancos não muito iguais, com um colchão que de tão fino parecia colcha, cheio de godilhões que, a não mostrarem que eram de lã por alguns rasgões, ao tacto da dureza pareciam calhaus, e dois lençóis feitos de coiro de adarga, e um cobertor cujos fios, se se quisessem contar, não se perderia um só da conta. Nesta maldita cama se deitou dom Quixote;..."
In 'Dom Quixote' de Miguel de Cervantes, Clássicos Civilização,Cap. XVI
da série:"não sei mais do que um miúdo de 10 anos"
"Pois deves saber que nós poetas não podemos seguir o caminho da beleza sem que Eros se nos depare e se torne nosso guia; podemos bem ser heróis à nossa maneira e guerreiros honestos, mas somos sempre como as mulheres, pois a paixão é a nossa sublimação e o nosso desejo será sempre o amor - é esta a nossa vontade e a nossa vergonha. Vês agora por que é que nós poetas não podemos ser sábios nem dignos? Que seguimos necessariamente o caminho falso, que necessariamente permanecemos libertinos e aventureiros do sentimento? A mestria do nosso estilo é mentira e loucura, a nossa fama e distinção uma farsa, a confiança do público em nós altamente ridícula e a educação do povo e da juventude através da arte um empreendimento arriscado, a proibir. De outro modo, como poderia ser educador aquele que tem inata uma incorrigível e natural atracção para o abismo?"
In «A Morte em Veneza», Thomas Mann, edit. Relógio d'Água 1987, trad. Cláudia Fisher.
Desclassificação da matéria; ela não é ideológica
"Entre velar e revelar se joga, ao longo desta história, o fim último da pintura. Paul Klee dirá que a arte torna visível. Talvez isso tenha funcionado durante algum tempo e sobretudo como um programa para o modernismo. Não ficaria ele espantado com o papel da visibilidade nos dias de hoje? O excesso de imagem a que estamos submetidos submerge e impede ou dificulta o conhecimento em vez de o apoiar, e a ideia de Klee parece pedir uma espécie de inversão em que o papel libertador da arte passe por uma espécie de contenção purificadora que recupere o velar, ocultar, como elemento a considerar no que se exibe ou revela. Assim, o que uma pintura mostra num novo regime de visibilidade - o nosso, de hoje - é sempre um detalhe sem a nostalgia do absoluto.Afinal não nos restam senão fragmentos, hipóteses entre infinitas combinações possíveis."
In Prefácio de Manuel San Payo a «A Obra-Prima Desconhecida», Honoré de Balzac, trad. Silvina Lopes, Edit. Vendaval, 2002